sábado, 12 de março de 2011

AS CRÔNICAS DE ARSGOTT – Canto 7

O Ancião contempla a fogueira, agora, quase extinta... Vê-se em sua face, uma lágrima; quem sabe pelos irmãos que se perderam no caminho. Por aqueles que tombaram vivos, entre os mortos. Ele olha a fogueira que transmuta a matéria... e abre-se em canto: 

Sobre a falésia, diante
do mar revolto em ondas,
castigado pela fúria das Eras,
o círculo do perene – o antigo
e o novo – fita o ocidental
horizonte anunciar-se escuro.

O olhar daqueles que olham
a nuvem escura que avança
é impassível e penetrante;
raios de luz, cantos e trovões,
ditam o sentido do conflito...

Aqui, os poucos restantes,
os que foram fiéis ao Espírito,
conformam-se em escudos e lanças,
lançando ao Alto a Palavra que salva:
o Impronunciável Nome...

Então as águas despertam
como fonte em terra seca...
e das pedras escuta-se o grito
das árvores que se contorcem...
e as nuvens escuras param,
resplendecendo no horizonte o Fogo.

Os anjos se movem sobre
as águas do abismo, novamente,
e tecem a Porta.
A coluna que em luz converte-se,
anuncia a Nova Aurora:
o crepúsculo do dias, a Volta
ao início, a primavera sempre...

Os que fitam o Oeste,
em Oriente convertido,
voltam-se ao Sul,
o novo Norte:
uma nova estrela re-brilha
no horizonte humano
de tão divino...
restando o en-canto vivo, dos antigos
e dos novos, o (e)terno sonho.


Depois de entoar este canto, Taliesin partiu em direção à floresta que fica à beira mar. Ele partiu... deixando no ar um perfume antigo, mas também novo. E ainda hoje suas palavras são escutadas na brisa, no murmúrio das fontes, no tilintar das pedras ao sol, no bruxuleio das fogueiras no meio do ano... Ele re-nasce em cada manhã, conosco... e quando a noite chegar, novamente, ele irá cantar pra nós o perene Canto Novo.

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