domingo, 23 de janeiro de 2011


Depois da tempestade... o arco-íris.

DEPOIS DA TEMPESTADE

“Fica o drama dos que esperam na falésia
Por quem Deus já destinou à eternidade
E é lição que contra Deus não há vontade
Fica a fúria calma da grande saudade."


(Madredeus - A Tempestade)

Entre o secular
descaso dos poderes
mundanos,
e a exploração da dor
e do desespero
humano;
a revolta se faz meio
aonde voam vis em volta,
a semear tempestades.

Silêncio !
Com coração
contrito e hálito sereno
elevemos a Deus
nossas preces; miseri-
cordia com-paixão
tenha por nós,
e revele a nós
o justo a fazer:

Que o Vento Leste
sopre o cinza das nuvens
e a brisa varra
as lágrimas da face.
Que as águas lavem,
oportunamente,
do vale a lama
que o cobre...
e a espada seja
clara e certa
a separar Luz e treva.
E novamente restitua
as céus, um Aleluia.

Pois sábio é fitar
no hoje, o horizonte
(para além da lama,
as ruínas e o desânimo):
há um Sol, sempre,
a brilhar por sobre
as nuvens escuras do agora...

Resta-nos anunciá-lo:
Vida entre os vivos;
Vivo, apesar dos mortos.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011


Os Magos: vitral de Chartres.

EPIPHANIA

Por sobre o ruído
das multidões anônimas
das cidades cotidianas,
e o silêncio
arruinado pela angústia
da noite escura...
eu escuto teus passos
que se apressam
em anunciar a chegada
do dia !

Lá, na periferia do mundo,
entre os esquecidos
e os rejeitados...
Lá, em um canto qualquer
de um banco de praça...
Lá onde ninguém
sensato espera...
nos chega a Primavera
à criação inteira,
que entre dores,
geme e sofre,
sorri e canta;
em expectativa
o crístico parto.

Enquanto o sistema
traça seus laços...
uma Criança se aninha
no útero da Terra;
e bendizendo a vida,
ao nascer
mata a morte.

Ela nasce siderada
pela esperança
dos que amam,
pela fé daqueles
que fitam
o justo horizonte...
pelo amor
dos que sonham
com-paixão:
um Reino sem reis
aonde impera
a comunhão
e lei, assinada no coração,
dita a alegria da Graça.

Em um canto qualquer...
a flor anuncia-se
nos campos da Terra,
e rompendo o asfalto
(frio e falso do tempo)
abre-se à eternidade
do definitivo instante:
Ei-la, a Criança;
divina porque humana,
a cantar o re-novo canto:
‘o Reino de Deus está
no meio de nós...’

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