terça-feira, 24 de dezembro de 2013

NATIVIDADE DO AMOR

(ou “De como o Amor amou o corpo e nele fez-se natividade”)


No altar do tempo,
um templo vazio.
A infinita Chama
(quase finita), clama!
Sobre o altar
o corpo esquartejado
jaz privado do Vento;
pois no templo, Mani-
queu, sacerdote feito,
maníaco baniu a brisa:
cerrou as portas,
fechou as janelas,
criou cadeados e trancas.
(tinha medo que o Vento
apagasse a Chama)
Sem a mínima brisa,
a chama ficou sufocada.
A treva instalada
carcomeu as entranhas...
terra desolada, sem esperança!
  
Chega então a Criança!

Pergunta pelo corpo, curiosa!
Vê de um lado a carne,
de outra a alma;
de um lado a matéria,
de outro a metafísica;
de um lado a treva,
de outro a claridade...
Até mesmo o Amor
estava separado:
de um lado o prazer,
de outro a caridade...
um cabeça em um canto,
um coração no outro!
Um coração pulsando morto...
o destroçado corpo dos santos
sobre o profanado altar do sagrado!

Mas, com a Criança chega o milagre!

O Vendaval abre
as trancas do templo,
varrendo o pó do sudário
linho do altar.
O Hálito lambe
as páginas do Livro.
A pia batismal
tem suas águas a vibrar.
O Povo de Deus
arrebatado para dentro...
e o corpo assim
ganha Corpo
sentindo-se engraçado
com as cócegas do Vento.
O mesmo Vento
que faz dançar
a chama do Círio...
a bailar às voltas
com o Vento.
(cheia de seus entusiasmos)

A Criança é o milagre! 

Nela, o sagrado em carne
ganha corpo.
Nela a vida está anunciada;
desiderata: pela estrela.
Com seu nascimento
a ressurreição fez-se advento;
pois a carne em verbo
fez-se sangue, pele, pelos, corpo,
povo, pão, vinho, templo.
O sagrado ofício das horas (o tempo)
na liturgia do dia a dia:
a grande alegria da vida
perante as pequenas (e grandes)
mortes cotidianas.

A criança, divina porque humana,
suga prazerosa o peito de sua mãe
tão terna: sua terra;
seu Reino, nossa esperança!

Arquivo do blog