domingo, 20 de junho de 2010

No coração da Terra...

EIS AÍ TEU CORAÇÃO

Se ao escutar
a canção do mar,
em ondas vagas,
e as palavras ficarem
presas na garganta...
quem sabe
lágrimas salgadas
banharão as praias
de tua face...
Então saberás:
eis aí teu coração!


Se uma brisa leve
arrebatar tua atenção
para o delicado encontro
entre o azul celeste
e o verde visgueiro...
quem sabe
vendavais de emoções
tomarão teus pensamentos
de luminosos beijos...
Então saberás:
eis aí teu coração!


Se a luz do sol,
brincando nas folhas
depois da chuva,
povoar teus olhos
de tocante saudade...
quem sabe
um sorriso doce
pousará aberto
na flor de tua face...
Então saberás:
eis aí teu coração!


Eis aí teu coração,
sereno pássaro liberto,
engaiolado no peito
entre o efêmero instante
e o definitivo momento...
quem sabe
não residirá nele
o a-mar imenso
do pulsar do universo
e o silêncio dEle?
Então saberás, por fim:
eis aí o Mistério!

sábado, 19 de junho de 2010

Anuncia-se...

ANUNCIAÇÃO

Quando o tempo
maduro estiver, querida Senhora,
o céu selará a jornada
dos que saíram a semear
as antigas demandas;
dos que cultivaram zelosos
em vasos, por séculos,
as ancestrais sementes
das Ilhas distantes...
Então, em outros cantos,
o antigo en-canto será desperto
em novos corações,
em novas terras e povos;
e seguirá re-colhendo (aclimatando)
os frutos despersos
nos quatro cantos do mundo...
e, por sete mares navegará, (submerso)
os pés desses itinerantes,
levando consigo adiante
a tradição mais re-novada:
carregando no caminho, na jornada,
o alimento que fortalece o ânimo vacilante...
unindo, como vivas pontes ,
o legado das pedras e árvores
e os sonhos dos ventos e brisas;
sabendo que o fogo revela
os perigos da noite fria
e as águas levam (e ligam)
os corações de todo o mundo.

Antes que nos chegue
o tormentoso inverno (sufocante)
sigamos , querida Senhora,
confiantes, como sempre,
na Primavera que se anuncia !

quarta-feira, 16 de junho de 2010

ITINERÁRIOS

Chegado agora ao ponto, ao porto,
d’onde outrora partiram barcos
que o destino nos legou ao norte;
à memória dos antigos bardos.

Sigamos andantes, cavaleiros,
por entre paisagens abençoadas:
povoadas de vigorosos visgueiros
a ventilar novas demandas.

Sigamos fiéis à Cruz anunciada
na aurora dos tempos, honradas Damas,
sabendo que a escuridão agoniza
diante da vera Luz da alvorada...

Cheguemos ao ponto, ao porto,
que o coração segue em círculo;
rumo à fonte do Cálice Vivo
do renascer primaveril da Graça.

Sabendo que não estamos (jamais) sozinhos
e a desesperança é o fim da picada;
seguros que, perseverando, veremos
o Amor vencer a morte... finada farsa.

domingo, 6 de junho de 2010

Re-inícios, novas paisagens...

ANTES QUE CHEGUE SILENTE A TARDE

Antes que chegue silente a tarde
e tarde fique nossa despedida,
subamos juntos a colina
e na clareira antiga
celebremos o rito da partida.
De lá, contemplemos
a paisagem tantas vezes vista,
o conhecido caminho já trilhado;
mas também, não esqueçamos,
de olhar o que se anuncia.
Vejamos a terra: as montanhas,
colinas, árvores e prados...;
vejamos as águas: as cachoeiras,
os mares, rios e lagos...;
vejamos os ventos: o céu,
as nuvens, ventanias e brisas...
Colhamos as flores memoráveis
das primaveras de outrora,
e nelas bebamos o doce
vinho (da festa) e as fogueiras
q’alumiam as noites silenciosas.
Das ancestrais paisagens
levemos no vaso do peito
as vozes de tantos rios,
cachoeiras e ribeiras;
que cantavam seus cantos
alimentando vales e campos;
o murmúrio das vagas dos oceanos,
os vários sons das floretas,
sem esquecer dos bosques em festa;
das cordilheiras sólidas e solenes;
dos ventos tornados de brisas...
Ascendamos o fogo novo
para que seja acesa a chama
e antes que caia a bruma
elevemos à divindade nossa fala,
numa ação de graças pela vida.
Celebremos, caminhante, a partida
para que quando nos re-encontremos
nossas caminhos se saúdem,
já que pela terra caminhamos,
ambos , diante do horizonte imenso.
Se ainda não sabemos, na partida,
o que nos espera depois da colina
não temamos a distância dos olhos,
(não te ver é perder a paisagem querida!)
pois há sempre a companhia de tudo, em volta:
o vento que festeja as árvores,
as águas que carregam memórias,
a terra que povoa o chão de sonhos,
e o fogo que ilumina nossos passos...
Festejemos, antes que chegue a noite
e a bruma eleve aos céus a paisagem;
terminada (até aqui) a trilha feita
façamos cumprir nossa promessa:

“Eu carrego você no meu coração,
vaso arcaico guardado no peito,
celeiro de tanta vida, chama viva,
de tantas paisagens, florestas passadas...”


“E eu, renovo itinerante, sigo adiante
em direção ao horizonte novo;
levando comigo, no peito peregrino,
você, querida irmã: a-manhã anunciada...”

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