quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

TRANSFIGURAÇÃO

Na rosa vermelha,
teu sangue encarnado.
Em cada árvore,
tua cruz pregada.
Em todo vento,
teu verbo anunciado.
Sobre toda água,
o teu Espírito paira.

No vinho partilhado,
as primícias de teu Reino.
Em cada pedaço de pão,
teu Amor que nos devora.
Em todo horizonte,
a Parusia (cada vez) mais próxima.
Sob o céu estrelado,
o advento da Criança.

(...)

Nas manhãs de verão,
o maná da tua luz.
Em cada noite escura,
a tua Fé nos acompanha.
Em todo dia da semana,
um domingo de Páscoa.
Sobre o morro, a favela:
Tu, Senhor, Moisés e Elias.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014












A luz, a floresta, o caminho...

NO TEMPO EM QUE SONHÁVAMOS

No tempo em que sonhávamos,
nós éramos despertos...
Vestíamos a noite insone
com a luz das auroras,
dos jasmins e mariposas;
povoada de sussurros.

Nós tínhamos raízes,
robustas e fortes,
cobrindo todo o espaço;
qual nuvem de pássaros
ou cardumes de folhas.

Andávamos com as árvores
e tecíamos as chuvas
com o delicado sereno
das madrugadas desertas;
habitadas de crepúsculos.

Nós sabíamos do fogo,
sua vida obscura,
e amávamos suas brasas
espalhadas pela terra;
centelhas de raios voando
ao sopro de vaga-lumes.

Deitávamos, solenes, as pedras
no leito dos rios e fontes
como quem semeia a lua
sobre o sangue da fêmea;
ou ao mar recolhe a lágrima
do doce olhar das crianças.

No tempo em que sonhávamos,
nós éramos despertos
e as palavras dormiam
na carne de nossas almas...
e o Espírito brincava (todo dia),
dançava na Sua presença
e se alegrava com os homens.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

QUANDO UM DIA EU MERGULHAR NO GRANDE MISTÉRIO...

Quando um dia eu mergulhar no grande mistério
serei com os oceanos, os peixes e as vagas;
serei com as nuvens, a garoa e a brisa;
serei com as florestas, montes e vales;
serei com a chama, as fogueiras e suas brasas;
serei com os pássaros, as abelhas e as raposas;
serei com os lagos, rios e cachoeiras;
serei com as gaivotas, o salmão e os gatos;
serei (...)

Quando então eu mergulhar no grande mistério
verei por fim que desde o início
estou nele mergulhado;
e nele estava,
e tinha parte com ele
a todo momento...
desde o dia em que nasci
para os claros ocultos que há
em toda manhã,
nos sempre dos crepúsculos,
nas noites sem luar,
nas estrelas (agora) decrépitas.

Quando um dia eu mergulhar no grande mistério
saberei (finalmente)
que jamais me havia dele apartado
e era com ele que estava
e nele estou desde sempre.
E que todo o resto (digo, a existência)
é intervalo, reticência... vagas,
(gaivotas, gatos, colinas, mariposas,
o luar e estrelas, fontes e vales,
visgueiros e brisas, o fogo e a noite...)
o tudo e o nada;
quando um dia eu mergulhar no grande mistério.



05 de janeiro de 2014
Domingo da Epifania de Nosso Senhor Jesus Cristo

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