sábado, 10 de novembro de 2018

NAQUELA PRIMEIRA NOITE DE VÁRIOS DIAS


Teneo quia teneor
Na primeira noite
De vários dias
Havia, quem sabe, nada;
Quem sabe um sabre
A estilhaçar a alma
Em um grito soco
Mudo e escuro de anos.
Não havia sequer lua,
Nem vésper a despertar
Nem sombra de lampejo,
De quem sabe a esperança
Em alguma vitrine da memória.
Não. Nada.
Lá fora, somente o princípio
Surdo do medo; atônito.
O mundo em marcha
Para o futuro, pretérito
Perfeito das eras;
Uma taça de vinho sangue
Tragada de torturas.
Naquela noite
Havia algo oco
Um espaço de espadas,
Cacos cortantes
De porões e poeira,
Tumbas, tumbeiros,
Fossos, farsas,
Força, farda,
Faca, forca;
Livros em chamas
Que ardiam em primavera
À noite sem flor
Aberta em suástica.
Naquela noite havia somente
A perplexidade escura;
A fé cega no mito ariano,
E um império de vendilhões
Em legião de seguidores
Que se enredavam
Diante do advento
Dos velhos dias
Capitaneada pelo ódio,
Semeado ao tempo
Que se iniciava
Naquela primeira noite
Do resto daqueles anos.

09 e 10 de novembro de 2018

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