segunda-feira, 16 de maio de 2011

CANTO AO VENTO

(Para harpa e sopro)

INTRÓITO (A Paisagem)
Arruinados prados,
soturno céu,
cinza.
A lua eclipsada
marca sua face
mais escura...
Nenhuma estrela dita
seu brilho, nem sombra,
de nuvem espalha (aqui)
alguma mínima brisa...
Ao sul, nuvens secas
carregadas de agonia;
ao este uma cega luz
escurece a visão;
ao norte, o desespero
forma-se denso...
enquanto
ao leste nasce
as dores do parto.

O CANTO (Do Mestre de Canto)
Então do meu peito
fez-se pranto...
e dentro do ar pesado
alçou o leve canto:
(com se fosse
a voz de muitos,
minha voz
encantou-se...
como gerações de ondas
a murmurar memórias;
como florestas
a farfalhar primaveras;
como vento
a varrer as folhas mortas...).

O CORO
Escuta, Tempo Novo,
a velha farsa:
eis o desespero,
a agonia
e o medo...
o seu velho silêncio
calado
das mordaças
dos cativeiros
a prender com
suas falas
a névoa-nada,
o oco eco,
o vago vazio
do seu não sentido.
Escuta, Tempo Novo,
O desespero,
mau conselheiro,
capaz de secar nuvens
e esfriar fértil vale;
eis a agonia
do velho tempo
a rebrilhar escura
sua luz negada;
eis o medo,
o inimigo calado,
a tecer ciladas.
Eis a tríplice
farsa:
a aliança
do desespero,
da agonia
e do medo
juntos à morte (em vida)
contra o novo
já vivente:
o tempo re-
nascido no perene
a fiar no presente
seu amor e-terno.
Escuta, Tempo Novo,
a agonia dos que
com-fiam na morte;
pois ela não pode
gestar uma vida,
nem da noite
fazer um dia,
nem da escuridão
uma alvorada.
Pois a vida
já foi pregada
e triunfou invicta
no Domingo de Páscoa.
Aleluia !
(pausa)
Escuta
o oportuno momento
de tecer o encontro
entre o canto e a harpa,
o tambor e a flauta,
a cítara e a gaita...
pois das cores do arrebol
já nos nasceu a alba
e da semente esperada
a primavera surgida...
Pois mesmos das ruínas,
as lágrimas são capazes
de reviver o seco vale
já que a terra não esquece
na semente oculta
a porta aberta ao broto.

O CANTO (Do Mestre de Canto)
Então do céu,
uma lágrima correu
e a brisa se converteu
em azul.
E o céu lilás alvoreceu
cobrindo de cores vivas
todas as partes do mundo:
e a esperança soprou
mais forte ao sul,
e o este resplandeceu
fulgurante clarão
e o norte re-viveu
em uníssono canto
enquanto
o leste amanhece
sempiterno e tão igual
a aurora do amanhã.

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