quinta-feira, 1 de julho de 2010

ORAÇÃO AO BOM HUMOR

(Livre adaptação de uma oração composta por Sir Thomas Morus (+ 1535), quando de sua prisão pelo rei Henrique VIII. A aparente irreverência dessa oração, como bem lembra o ensaísta e poeta Ivan Junqueira (1934), revela antes uma “tradição especificamente inglesa que conjuga religiosidade e humorismo”. Tal tradição nos legou nomes como John Donne, Richard Crashaw e John Betjeman.)


Meu Senhor e meu Deus,
Doce hóspede de minha alma,
permita-me a Graça
de encontrar
a graça de viver o dia-a-dia.

Dá-me, Senhor,
antes de tudo,
a saúde do corpo
e o bom humor
para conservá-la.

Dá-me, Senhor,
a serena tranqüilidade
para enfrentar
as buzinas dos carros
e a raivosidade dos chatos.

Dá-me, Senhor,
a oportunidade de escutar
e compreender
a graça de uma piada;
e não se esqueça
de dá-me também
a capacidade de partilhar
com os outros
um pouco de alegria.

Dá-me, Senhor,
segundo tua vontade,
vez em quando,
a condição de beber
com gente amiga
um bom aperitivo
(para celebrar a viva
alegria de estar com bons convivas);
e não se esqueça também
de no dia seguinte
me livrar da dor da ressaca...
(e caso tenha me excedido,
lembra-me de não a esquecer
para não sofrer novamente,
no excesso, sem raiva.)

Dá-me, Senhor,
a graça de uma gargalhada;
principalmente diante do risível
de minha condição humana,
para enfrentar com bom humor
os infortúnios improváveis
e as preocupações inúteis;
pois bem sabes, Senhor,
que só o maligno
pode se levar demasiado a sério,
seguro que está na sua sisuda arrogância.

Dá-me, Senhor,
uma boa digestão
para poder saborear
a dádiva de uma comida;
mesmo que seja pão com mortadela
ou uma buchada nordestina !

E por fim, Senhor,
livra-me do tédio
e das des-graças da não vida;
dos resmungos,
dos suspiros e das queixas.
Dá-me, Senhor,
o senso do ridículo
e uma boa dose extra de paciência
para com os outros e para comigo.

Amém.

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